17 de fevereiro de 2009

“Judas, o obscuro”: o livro da minha vida


selofinal
Acredito que quando amamos uma história, um poema… quando nos encantamos com uma obra, temos uma necessidade incontrolável de espalhar esse encantamento…

Por isso, decidi seguir o Fio de Ariadne! Desde então, “Judas, o obscuro”, de Thomas Hardy, se (re) instalou em mim.
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Engraçado que poucas vezes falei nele… não o indiquei (exceto quando presenteei minha psiquiatra na época)… não o reli (estou fazendo isso somente agora!)… ele passou mais de onze anos, ali, esperando para saltar na minha memória…

Chegou a mim pelo Marco (meu marido), numa edição de 1962, traduzida por Octávio de Faria, comprada num sebo em Porto Alegre.

“Que paulada!!!”: era o que eu mais repetia durante a leitura na época… “Tudo dá errado na vida do cara!”

Judas Fawley, na Inglaterra do século XIX, têm seus sonhos esmagados por uma sociedade cheia de preconceitos, baseada numa economia excludente, pautada por dogmas religiosos…

Ele mesmo diz, repensando sua vida:
(…) – Deve cada um seguir cegamente o caminho em que se acha, sem considerar seus dotes pessoais, ou deve, pelo contrário, pesar as aptidões, as preferências que possa ter, e mudar a direção de sua vida? Foi o que tentei fazer e fracassei. Mas não admito que o meu fracasso valha como prova de que estava errado, do mesmo modo como não admitiria que o sucesso justificasse o bem-fundado do meu ponto de vista. E é assim, entretanto, que, muitas vezes, julgamos os esforços, não pelo seu valor essencial, mas pelo  seu resultado acidental. Se me tivesse tornado um desses doutores vestidos de vermelho e preto que estamos vendo descer, ali, todos diriam: “Vejam como este homem agiu sabiamente, seguindo o pendor de sua natureza!” Mas, não tendo acabado melhor do que comecei, dizem: “Vejam como este homem agiu estupidamente, seguindo um capricho de sua imaginação!” No entanto, foi minha pobreza e não minha vontade quem determinou a minha derrota. (…)
Num dos momentos essenciais da história, o narrador põe, no pequeno Judaszinho ou o Pequeno Pai do Tempo, uma das falas mais duras e mais emblemáticas do romance.

O menino, “uma criança excessivamente raciocinadora”, falava com Sue, sua madrasta, sobre as dificuldades que se agravavam na vida da família; e ela lhe revela que está grávida do terceiro filho.
-  Vai haver um outro bebê!
-   O quê? – O menino deu um pulo – Ó, meu Deus! Mãe, você foi pedir outro, quando tem tanto trabalho com os que tem!
- Sinto dizer, mas pedi – murmurou Sue, com os olhos brilhantes de lágrimas retidas.
O menino se pôs a soluçar.
- Ah! você não se importa com nada, com nada! – exclamou, em tom de amarga censura. – Como é que você pode ser tão cruel e tão má! Você poderia ter esperado que estivéssemos melhor, que papai ficasse bom! E vai nos botar ainda mais atrapalhados! Não há lugar para nós, papai tem que ir embora, temos que sair daqui amanhã, e você ainda vai ter outro bebê!… Certamente fez de propósito. Fez… fez! – E andava de um lado para o outro, soluçando.
Essa cena tem um desdobramento trágico: na manhã seguinte as três crianças aparecem enforcadas no quarto! Reler esse episódio, hoje, na condição de mãe de um guri de nove anos, me pegou de jeito… que tristeza!!!

(Por falar no guri, dá uma passadinha no Blog do Tomate, tem post sobre o livro da vida dele!! Uma gracinha!)

Com um desfecho que beira ao patético, a história dos fracassos de Judas nos faz refletir sobre a fragilidade das relações entre as pessoas, entre as instituições, sobre a falta de oportunidades…

Pois é…

Ainda não acredito que elegi Judas como o livro da minha vida… talvez seja uma pequena traição da minha memória afetiva… sei lá… porque eu adoro, releio e espalho “Vidas secas”, do Graciliano, “O continente”, do Erico, “Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez”, do Tabajara Ruas, “O planeta lilás”, do Ziraldo… os contos do Machado, os contos do Rubem Fonseca, os contos do Dalton Trevisan…