21 de agosto de 2012

Sociedade, escola, pessoas, sonhos: ligações possíveis



É tempo de reestruturação do ensino médio...

A escola em que trabalho oferece duas modalidades: o ensino médio politécnico e o ensino médio curso normal.

E a coordenação pedagógica, volta e meia, nos provoca a refletir sobre as práticas, a fim de qualificá-las.

As últimas questões davam conta da revisão da filosofia da escola e me fizeram lembrar, inicialmente, de Mario Quintana.

Por quê? Certamente, haverá aqueles que, ao se deparar com as provocações, repetirão: lá vem o estado inventando moda... ora, rever o regimento escolar, o PPP! Pura burocracia!

Para esses, então, Das utopias:
Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que triste os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas.
Lembrei, também, do artigo Etnografia da sala de aula, parte da tese de doutoramento de Maria de Lourdes Sá Earp (que a Tatiane compartilhou), que traz as ideias de centro e periferia para a sala de aula, uma (triste!) metáfora para explicar ideologia da reprovação.

Segundo a pesquisa, há alunos escolhidos pelo professor para aprender – os considerados do centro e há alunos deixados de lado, abandonados à própria sorte – os da periferia.

Portanto, os que não aprendem é por que não foram ensinados.
… para além das explicações reprodutivistas, a escola brasileira é ainda mais excludente, e essa exclusão estaria representada no fenômeno cultural da “repetência”. Nos modos de agir, pensar e sentir da escola brasileira o aluno que não aprendeu deve ser castigado com a reprovação, que se naturalizou como principal recurso pedagógico dos professores.
Não, não é essa a educação com que sonhamos, pois a Constituição Federal, no Art. 206, garante:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
Queremos uma escola para todos, diferentemente de décadas anteriores, em que, apenas, alguns privilegiados podiam frequentá-la.

Desejamos acolher os alunos, fazendo com que superem os possíveis limites, garantindo-lhes a permanência e a conclusão do ensino médio.

Há que considerar, também, as mudanças que as tecnologias nos impõem, especialmente, o acesso à informação. Hoje, muito mais rápido, fácil e ao alcance da maioria.

Essas mudanças afetam nossas relações interpessoais e com o(s) conhecimento (s) (dentro e fora da escola).

Por causa dessas constatações, penso, a escola deve ser uma rede de aprendizagem que privilegia o aprender fazendo, aprender interagindo, aprender buscando e aprender compartilhando (Web 2.0- inteligencia colectiva o medios fast food), em que alunos, professores, funcionários, gestores, famílias sejam autores.

Assim, estará contribuindo para
a formação de cidadãos atualizados, capazes de participar politicamente, usufruindo daquilo que o homem histórico produziu, mas, ao mesmo tempo, dando sua contribuição criadora e transformando a sociedade.” (Vitor Paro¹). 
E, isso me lembra o poema de João Cabral de Melo Neto:
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de outro galo (...)
Sei que a escola é um dos instrumentos do Estado para manter o modelo de sociedade, individualista, pautado no consumismo, na competição, nas ideias neoliberais.

E, por isso, talvez, volta e meia a gente ouça: ele/a se fez sozinho ou não se deu melhor na vida ou não estudou porque não quis, como se as oportunidades fossem as mesmas para todos!

Para problematizar essas ideias, devemos tecer nossas contra-hegemonias, como no poema de João Cabral: as pessoas sozinhas não fazem as manhãs; elas precisam de outras pessoas  para transformar, (re) nascer.

E a escola tem papel fundamental nesse contexto, pois
As pessoas não pensam sem referências, elas o fazem a partir de um determinado contexto histórico-social e ideológico. É preciso, portanto, construir coletivamente este referencial comum que torna possível a construção da ética pela educação. A escola, neste sentido, será cada vez mais chamada a contribuir na formação integral do indivíduo, a auxiliá-lo a compreender o mundo no qual está inserido, refletir sobre ele, fazer opções de valores e agir de modo comprometido. Esta educação será ética porque nos tirará da imobilidade, das atitudes solipsistas e nos fará tratar o homem com dignidade, como sujeito (Arnaldo Mogaro²). 
Também, lembrei das palavras de Paulo Freire:
Um dos saberes primeiros (...) é o saber do futuro como problema e não como inexorabilidade. É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo.
Como estamos sendo, sonhamos com homens e mulheres em permanente formação, atuando numa sociedade tolerante, mais justa, menos desigual, esperançosa.

Paulo (de novo!): “mudar é difícil mas é possível".

Que o regimento da escola expresse nossos sonhos possíveis!

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1. Papel da escola: preparação para que trabalho? Papel do estado, do serviço público e função social da escola. Caderno temático 11.

2. “Crise da valores” ou ausência de educação ética? Ética, cidadania e valores. Caderno temático 24.



Um comentário:

Unknown disse...

Olá Multiplicadora Suely, estamos felizes por você fazer parte do projeto. Como prometido, seu blog já foi divulgado. Esperamos que goste!

Aqui está o link da publicação:
http://www.educadoresmultiplicadores.com.br/2014/02/ufa-bloguei.html

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E já sabe, seu blog poderá ficar em evidência todos os meses, conforme as regras da parceria (saiba tirar proveito dessa parceria dinâmica).

Quando quiser acessar o link: Educadores Multiplicadores e o Marquecomx, fique a vontade!

Parabéns pelos excelentes textos, fiquemos na Paz de Deus, abraço e até breve!

Irivan