13 de abril de 2009

Escolas de vidro?

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O terceiro conto de Este admirável mundo louco, de Ruth Rocha, é o que motivou a minha leitura: Quando a escola é de vidro…

(Aqui teci alguns sentidos sobre o primeiro conto desse livro.)

Ele serve para espichar uma conversa que iniciei no texto Elas são rápidas, inteligentes e irreverentes! sobre escolas, alunos (as) e professores(as). E me fez constatar, com muita tristeza, que o mundo louco revelado por Ruth insiste em acontecer! Ainda bem que sempre há os Firulis que trazem novos olhares, mexem com o que está hegemonicamente plantado!!!

A história: um(a) narrador(a) relembra os tempos de escola:
Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes…
O que era natural? As crianças, na sala de aula, dentro de vidros!
Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.
A metáfora do vidro é interessante: substância sólida, frágil e translúcida (no Minidicionário Houaiss).

O vidro permite ver e ser visto; quer dizer, a professora pode transmitir as informações com a garantia de que não será interrompida, na mais perfeita ordem.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava…
Ruth problematiza – usando a imagem do vidro – o autoritarismo, a ausência de liberdade, a (en) (de) formação dos (as) alunos (as)!
Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros.
Até que chega à escola Firuli, um menino pobre, para quem não há vidro, e ninguém se importa com isso… Deixam que ele fique assim, livre…
Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre. Aí não tinha vidro pra botar esse menino. Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo…
As outras crianças começam a perceber que Firuli
desenhava melhor que qualquer um, (…) respondia perguntas mais depressa que os outros, (…) era muito mais engraçado. E os professores não gostavam nada disso…
Aos poucos, ao vislumbrar uma nova realidade, começam a não querer mais ficar nos vidros… percebem, finalmente, que as coisas podem ser diferentes, de outros jeitos!
Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele (Seu Hermenegildo, o diretor) conseguia enfiar dentro do vidro – já tinha dois fora.
E o narrador finaliza:
E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
Essa obra de Ruth Rocha, puxa fios para "O admirável mundo novo", de Aldous Huxley – já referi anteriormente. Puxa fios, também, para o mito da caverna, de Platão. E fios para as ideias de educação bancária e educação problematizadora, concepções que encontramos em Paulo Freire. Lindo!

*** *** *** *** ***

Só algumas “minhocas”: Qual o papel da escola? Reproduzir e manter as relações de poder que sustentam a sociedade? Ou transformar essas relações, tendo em vista um mundo mais justo, menos desigual?

Como são as práticas nas escolas? Os Projetos Políticos Pedagógicos – com suas “belas” e “corretas” palavras - estão no cotidiano das salas de aula? Ou são apenas projetos e por isso não precisam ser vivenciados?

Qual é o meu papel como professor(a)?


12 comentários:

Gládis Leal dos Santos disse...

Suely,

Suas considerações sobre este conto de Admirável mundo louco são instigantes, vou atrás dele para ler.

Bjus
Gládis

Jarbas disse...

Oi Su,

Beleza de texto -o seu e o original. Ele pode ser entendido na direção que você aponta.Mas, pode também ser lido de uma outra forma. Foi o que fiz. Relacionei a história com um tema que me atrai muito atualmente: arquitetura escolar. Entendo a questão de forma ampla. Não a vejo apenas do ponto de vista físico. Vejo-a mais como expressão simbólica do espaço no currículo oculto.
Acho que o seu post tem tudo a ver com o que estou chamando de arquitetura e educação.
Estou tentando promover uma conversa mais ampla sobre o tema.Para tanto,fiz uma proposta lá no Boteco Escola que gostaria que você conhecesse. Se puder, apareça no pedaço e entre na conversa. O post que menciono pode ser encontrado em:

http://jarbas.wordpress.com/2009/03/30/arquitetura-e-educacao-blogagem-coletiva/

Abraço grande, Jarbas.

EVELIZE SALGADO disse...

Oi, Suely, nada acontece por acaso. Há coisas muito interessantes sobre as terapias alternativas. Dá uma olhada no post sobre a energia dos florais, é bem legal saber como eles funcionam.
Também deixei selinho pra ti no meu blog, passa pra pegar.
Bjinhossssssss

Unknown disse...

Suely,
Esse texto me levou de volta pra infância: eu adorava esse livro, principalmente o conto sobre as escolas.
Fiquei com vontade de usar algum desses contos em uma aula.

Lilian disse...

Oi Sú,
o blog está lindo! estou curiosa com o conto da Ruth Rocha, hoje mesmo lemos outro livro dela aqui com as crianças.vou atrás!
abço
Lilian

Unknown disse...

Ainda hoje, depois de cinco meses como aprendiz de blogueira, me vejo às voltas com a questão do lugar em que estender o diálogo que se constrói no Ufa!
Decidi, usar o espaço para os comentários daqui mesmo!

Gládis!

É sempre um prazer ler Ruth Rocha!!! E como toda boa literatura, os textos dela permitem várias construções de sentido - encantam as crianças e os que já não são tão crianças assim... Ela está entre as autoras preferidas do meu filho... Faz parte de nossas leituras cotidianas...

Abraços!

Unknown disse...

Professor Jarbas!

Um alegria muito grande partilhar minhas impressões de leitura...
Como acompanho o Boteco Escola, já li algumas provocações sobre arquitetura escolar...

Vou tentar contribuir com o debate...

Abraços!

Unknown disse...

Oi, Cecy!

Acho que este texto dá, por exemplo, um bom debate sobre a escola que temos e a escola que queremos... É bastante provocativo!!!

Abraços!

Unknown disse...

Oi, Lilian!

A Ruth (adoro nomear @s autores(as) com intimidade! afinal, fazem parte de nosso cotidiano, né?!) nos faz cada provocação...

Vale muito a pena ler esse texto e os outros dois que estão no livro!! Dão pano pra manga!

Abraços!

Marli Fiorentin disse...

Suely!
Acho que no discurso as escolas são uma maravilha, todo mundo incorporou a vontade de quebrar paradigmas da educação bancária, mas na prática a coisa demora e nem tudo são flores. Estamos na transição entre o querer e o fazer de fato. Mas o importante é o processo, ir caminhando, refletindo e buscando alternativas. Beijo!

Unknown disse...

Suely,tem um selo para você no meu blog.Abraços.

Miriam disse...

Adoro Ruth Rocha, vou atrás deste livro.