5 de abril de 2009

Planeta Terra: um olhar “estrangeiro”!

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Fui atrás do texto Quando a escola é de vidro…, da Ruth Rocha – indicação da Andrea…

… topei com Este admirável mundo louco, seus três contos e a inequívoca conexão – inicialmente, estabelecida pelo título - com Admirável mundo novo, de Aldous Huxley!

Na primeira história, a que dá título à obra, encontrei as anotações do professor Sintomático de Aquino, um ufólogo convicto, dedicado a provar a existência de vida inteligente fora do planeta Terra!

Entre elas, o relatório de um extraterrestre, em que, ao mesmo tempo, descreve a vida na Terra e tenta entender a lógica das relações humanas! Esse relatório revela perplexidade:
Moram, quase todos, amontoados nuns lugares muito feios, que eles chamam de cidades.
Esses lugares cheiram muito mal por causa de umas porcarias que eles fabricam e de umas nuvens escuras que saem de uns tubos muito grandes que por sua vez saem de dentro de umas caixas que eles chamam de fábricas.
Parece que eles vivem dentro de outras caixas.
Algumas dessas caixas são grandes, outras são pequenas.
Nem sempre moram mais freguetes nas caixas maiores.
Às vezes acontece o contrário: nas caixas grandes moram pouquinhos freguetes e nas caixas pequenininhas mora um monte deles.
Gosto desse jogo – reflexão – de nos enxergarmos como se estivéssemos fora do contexto, como se fôssemos estrangeir@s! Esse olhar, representado pelo ET, nos faz perceber os limites e, quem sabe, vislumbrar algumas saídas para os problemas.

Quando descreve os humanos, faz analogias hilárias:
Mais embaixo ainda tem um buraco grande, cheio de grãos brancos e tem uma coisa vermelha que mexe muito.
Os freguetes estão sempre botando dentro deste buraco uma coisa que eles chamam de comida.
Outra vez: jogo. A literatura passa pela ludicidade!!! @ autor(a) lança algumas regras e @s leitores(as) se entregam a elas… puro deleite!!!

Ao expor nossas relações e reações, mostra as contradições e os absurdos:
Eles vivem brigando  muito, os grandes brigam com os pequenos o tempo todo e então os bem pequenos começam a gritar e é aí que sai água das bolas que eles têm na cara.
E, ao finalizar o relatório, o extraterrestre, antevendo um final desastroso,  recomenda a visita mais atenta de especialistas em planetas de alto risco:
Pois este planeta, que é chamado por seus freguetes de Terra, é incrivelmente semelhante ao planeta Flórides do sistema Flíbito, que se desintegrou, na era Flatônica, não se sabe por que, mas, que nessa ocasião desprendeu grandes nuvens de fumaça em forma de cogumelos…
Quando Ruth Rocha usa a imagem de um ET, alguém de fora do nosso contexto, para tentar entender – em vão - o mundo em que vivemos, nos abre inúmeras possibilidades de sentidos!!! A gente ri, se revolta, se identifica…

Assim como no mundo criado por Huxley, o retrato de Ruth revela incoerência, manipulação, caos.

Sem dúvida, uma bela história para compor as rodas de leitura! Para qualquer idade - literatura da boa não tem isso: infantil, infanto-juvenil, para adult@s, “né”?! Uma boa história é uma boa história!

No próximo post, outra história!