22 de novembro de 2009

Um olhar sobre psicanálise e educação

655C32_1 (… mais   algumas reflexões instigadas pelo curso de Especialização Tecnologias em Educação (PUCRJ/MEC), de que participo como aluna desde setembro…)


Trabalhei  numa escola pública estadual pautada na pedagogia freireana. Ali, nas  formações semanais, garantidas pelo Projeto Político Pedagógico, e nas práticas cotidianas, aprendi a olhar de forma mais amorosa, mais rigorosa, mais humanizada, mais solidária, para os educandos e as educandas.

Lendo o referencial teórico proposto na unidade 5, da disciplina Concepções de Aprendizagem, revi, sob a ótica da psicanálise, muitas ações desenvolvidas nessa escola.

Uma das principais contribuições de Freud, e que  Paulo Freire reafirma, é “a necessidade de se ter um olhar individualizado para nossos alunos”. Em busca desse olhar, a escola a que referi realizava (realiza) um movimento muito interessante de conhecimento da realidade: professores e alunos saíam (saem) para a comunidade a fim de interagir com as famílias. Outra atividade fundamental era (é) a escrita da autobiografia: cada educando conta um pouco de suas vivências... Isso nos permitia entender melhor cada aluno e tentar, a partir daí, buscar estratégias para a superação de limites.

Penso que essas são algumas possibilidades de experienciar o que Freud propôs: “reconhecer a individualidade constitucional da criança (no caso da escola em que atuei, dos adolescentes); discernir, a partir de pequenos indícios, o que está se passando na mente ainda imatura dela e dar-lhe a quantidade exata de amor e ao mesmo tempo manter um grau eficaz de autoridade”.

Outra questão que gostaria de trazer para cá, por ser fundamental nas relações de ensino-aprendizagem, é o papel do professor: modelo de identificação “e de quem o aprendente cria uma idealização de dono do saber”.

Muito importante que os professores não se perpetuem nesse papel (donos do saber) e abram espaços para que o “aprendiz legitime, re-signifique criticamente, por si mesmo, o que lhe é ensinado”.

Essencial, também, que desempenhemos a função de maternagem, preparando os “alunos para construir o seu conhecimento e entender melhor o mundo”, e a função paterna “dando (aos alunos) os limites necessários”.

Inquestionável o papel do educador: “um dos modelos significativos que ajudam o ser humano a constituir seu eu”! Não é fácil, bem sei...

Para que se consiga minimamente desempenhar esse papel é necessário um refletir constante sobre as práticas. Ainda há muitos professores que apenas dão conteúdos e mais conteúdos, e ignoram a dimensão social, a dimensão afetiva em suas relações com os alunos.

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Observação: os trechos entre aspas são da professora Maria Apparecida Mamede-Neves, das aulas  da disciplina Concepções de Aprendizagem.


4 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, querida amiga, essa dimensão afetiva é indispensável entre professor e aluno, sempre galgada no respeito. Um aluno que encontra bondade e afetividade em seu mestre, terá prazer em comparecer em aula. Temos de lembrar que criança e adolescente precisam de motivação, estímulo. Afinal, estudar tem de ser algo prazeroso, que encante. Do mestre, depende boa parte.

Meu carinho.
tais luso

Alcir Martins disse...

Oi, Su!

Lembro dessa escola que vc fala...e de como é o dilema da valorização da individualidade numa proposta coletiva...como ser indvíduo, individual sem ser individualista? E como garantir o coletivo, sem esmaecer ou esconder a individualidade? São dilemas interessantes que, geralmente, passam despercebidos (e olha que isso nos dá uma angústia daquelas...)

e sobre os "donos do saber"?? Ahhh... a cadeirinah de "dono do saber" é tão confortável e quentinha... é díficil mesmo aceitar sair dela...

abração a toda turma...

Unknown disse...

Oi, Dire!!

Muito bom te encontrar aqui!

A ideia do olhar mais individual vem na contramão da prática de aulas massificadas, sem que os tempos de aprendizagem sejam respeitados... se @ alun@ não entendeu? Problema dele(a)! Tá cheio dessa prática por aí!!!

Não significa dar aula particular, mas buscar alternativas - novas leituras, novas conversas... - junto com a gurizada para a superação dos possíveis limites...

Tenho lido sobre Síndrome de Down - um seminário virtual, se desenha...
Aprendi com um pai blogueiro: em vez de "Todos pela educação", não seria melhor "Educação para tod@s"??? Por que insistimos em fazer aulas apenas para alguns alunos??? Parece que nos conformamos com isso... "Se conseguir atingir dez alunos já está bom", me falava uma colega dia desses...
Não aceito mais isso...
Abraços!!!

Unknown disse...

Oi, Taís!!

Obrigada pela parceria!!

Por isso, pela importância da afetividade na escola, para que a aprendizagem se efetive, no texto em questão, uso duas palavras que me encantam: uma aprendi com Paulo Freire: amorosidade; outra, com Freud: maternagem!!!

São ações indispensáveis para quem deseja aprender e ensinar!!!

Abraços!!!