- Eu escrevi muita coisa, tu sabes, mas tem uma que eu deveria ter escrito e não tive talento, ou paciência, ou sabedoria suficiente. Era a única história que valia a pena(…)
Assim, Luís Augusto Fischer começa “Quatro negros”: com o travessão e o “tu sabes” chamando @ leitor(a) para o texto.
Bem sei, esse diálogo sempre se dá no ato da leitura, só que, em “Quatro negros”, ele se explicita deliciosamente!
O narrador-escritor segue, refletindo sobre sua produção, sobre o mercado editorial, se apresentando, bastante melancólico:
Uma história que não mereço contar agora, quando eu já menti tanto, já publiquei tanto romance ruim que passou por bom, já virei um medalhão celebrado em todas as cidades onde vou.
E completa:
Te conto, nem sei por quê, mas te conto. Depois tu podes fazer dela o que melhor te parecer, ou fazer nada, porque quem sabe qual o destino certo e adequado de uma história, afinal?
Partindo dessa provocação, resolvi usar a história de Janéti na blogagem coletiva proposta pela Ester, do blog Esterança!
E o que Janéti tem a ver com o tema inclusão social?
Ela é uma
negrinha miuda que o leitor verá crescer, página após página numa luta para manter sua pobre família unida. Como um gaúcho em negativo – ela é negra e mulher –, Janéti é uma heroína moderna, decidida, que resiste ao mundo que se desagrega à sua volta (palavras do professor Carlos Moreno).
Além desse motivo, há a ideia da literatura como espelho, em que nos vemos refletidos como povo, como indivíduos. E essas imagens, nos ajudam a pensar nossos papéis no mundo.
E aqui aproveito mais um trecho da obra de Fischer, em que o narrador-escritor diz para que serve a literatura:
O formato da vida real não dá pra enxergar; por isso a gente faz ficção, pra poder ajeitar a vida para a fotografia, como os mais velhos faziam com as crianças, pente cuidadoso nos cabelos, ou pelo menos uns dedos percorrendo a grenha para dar um aspecto de arrumação, a gola no lugar, convite ao “xis”. A foto da vida. A fotografia que talvez perdure e diga lá para os do futuro como é que era, mais ou menos, esta vida aqui. A vida ajeitada de modo a ter uma forma, a se tornar visível.
“Quatro negros” é uma “foto da vida” de Janéti, de sua família, dos que vivem esquecidos pelo poder público, invisíveis, sem acesso à educação, à saúde, à segurança, à moradia…
E a escola precisa dessas fotografias para se enxergar e se movimentar em busca de alternativas mais justas, menos excludentes… se movimentar em busca de um outro mundo possível!
5 comentários:
Belo texto, gostei da menção ao quadro negro.
Bjs, gostei daqui
Chris
Muitas vezes pergunto como que simples atos de verdade como foi desempenhado pela Ester, nos faz entrar nesse mundo magico de verdade; esse mundo que ao mesmo tempo falamos de algo serio, encontramos novos amigos, novos conteudos. Isso se chama mudança, isso é incluir na sociedade, mostrando o que somos capaz. E hoje ao ler seu conteudo deparo com varias suspresas como essa, que faz eu parabenizar a vc.. pelo excelente trabalho...
Continuemos....abraços
"A gente nao faz amigos, reconhece- os"
Vinicius de MOrais
lindo seu texto, parabens pela bela participação nesta gde idea, a blogagem coletiva.
abraços
Que esta iniciativa de blogagem coletiva que participamos hoje, sirva como uma fotografia permanente em nossa consciência em prol de uma sociedade melhor e mais aberta à solução de seus problemas.
Abraços, Fatima
Caramba, Suely! Somente agora li o teu texto na blogagem coletiva sobre inclusão social e ele é nota 1000!!! Ameeeeeei...
sou apaixonada pela criatura e pelo criador, obra e autor e, de fato, Quatro negros é a expressão da exclusão social neste pampa gaudério! Parabéns!!!!
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