17 de janeiro de 2011

De carona, com Luís Dill


9788574211596
     
Acabo de desembarcar de mais uma obra de Luís Dill: De carona, com nitro.

A partir das 8h31min de um sábado, 7 de outubro, começa a se desenhar a rotina de diversas personagens: um menino de oito anos, Giancarlo, e o pai, Fábio, cruzam uma avenida: Vamos atravessar no piano?

(Gosto de ser surpreendida por essas imagens: boa literatura! e a obra de Dill está permeada por essa brincadeira com a linguagem, uma delícia!)

Doralice arruma o café para a família: marido e três filhos adolescentes – dois rapazes e Isadora, a caçula -, recordando parte do sonho que tivera naquela noite. Lembrará horrorizada do sonho no dia seguinte, durante o velório da filha. 

Em outros pontos da cidade: uma jovem jornalista – Fernanda – se prepara para cumprir mais uma pauta entediante: feira de animais para adoção. Em menos de 24 horas receberá o que deseja. 

Gabriel, morador de rua, acorda, confere os pertences: Tudo está no lugar. Sabe que, se dorme demais, pode acordar sem nada, pode-se, inclusive, perder a vida. 

Djalma, no trabalho, envia uma mensagem para a noiva, Andressa: Bom dia amor. Te amo. Bj. 

Miguel, um fotógrafo com problemas de saúde por causa do excesso de peso, a partir da manhã do dia seguinte começará dieta sem se dar conta. 

Alcebíades trabalha tirando gente despedaçada de dentro de carros e tem uma filha adolescente.

Bruno gosta de cerveja gelada e beijo na boca; Vitória, muito falante, interessada nos caras da faculdade: Eu não sou de perder tempo (…) cada gato…; Nicole assiste a filmes antigos no DVD; Ricardo, o dono do Peugeot 206, adora velocidade e faz sucesso com as meninas por causa do carro; Franciele não vê a hora de ter o próprio apartamento: É um sonho que não realizará.

O tecido vai sendo tramado até a culminância: o acidente de trânsito, no dia 8 de outubro, domingo, às 6h03min!

Essa tragédia é anunciada pelo narrador no início do livro, quando expressa a repercussão do acidente nos jornais de segunda-feira, e durante a história, no final de alguns episódios daquele dia.

O que prende @ leitor(a) é o jogo - uma espécie de quebra-cabeças –, são os flashs que vão iluminando cenas corriqueiras, protagonizadas por pessoas comuns que vivem suas rotinas com a família, com os amigos, no trabalho… Essas vidas, as nossas vidas, tão vulneráveis, num segundo, se transformam! Muitas vezes, essas mudanças são trágicas, envolvem perdas…

São menos de vinte e quatro horas, mas o suficiente para que a gente conheça, se identifique e torça para que Isadora, por exemplo, não esteja no carro de Ricardo! Que Andressa e Djalma tenham percorrido outro caminho que não o do Peugeot! Que Fábio e Giancarlo estejam dormindo… Que Nicole tenha chamado o pai para buscá-la…

Essa carona com Luis Dill nos oferece uma história que é pura adrenalina, nos joga numa realidade que precisa, urgentemente, ser transformada, para que os Marcelos, as Giselas, as Lígias, meus/minhas amig@s  querid@s que deveriam estar chegando as cinquenta, como eu, não tenham as vidas tão precocemente interrompidas!


Um comentário:

Tati Martins disse...

Oi, Suely! Tudo bem?
Vc recebeu o email que lhe enviei? Estou terminando minha pesquisa e você é muito importante nela, lembra? Por isso, preciso de sua autorização. Caso não tenha recebido o email, por favor me avise, senão, basta respondê-lo.
Obrigada!
Um beijinho,
Tati (tatianemomartins@gmail.com)