Educar para crescer é um projeto do Grupo Abril que, entre as ações, está um portal sobre educação.
Nele, volta e meia, aparecem testes simpáticos do tipo Qual personagem de Monteiro Lobato você é?
Pois é, sou o Visconde!
Ou Que poesia infantil combina mais com você?
Combino com a poesia bem-humorada, por exemplo,
O médico é o monstro?Sim, eu corro para responder e me descobrir! ;)
O médico nunca me disse:
– Sorvete. Tome sorvete.
– Picolé, três vezes por dia.
Doutor é contra a alegria.
Adora remédio, adora injeção!
Doutor, ora, Doutor...
O certo é Dou-dor, isso sim,
por que não? (Cláudio Thebas)
Mas não é sobre testes que quero falar...
Faz um tempão que tive acesso à Biblioteca Básica - o que ler dos 2 aos 18 anos para ter uma ótima formação e chegar com boas referências à vida adulta - (sub-título de respeito esse, né?!) divulgada no site.
Comecei a passear pelas sugestões feitas por 18 educadores... 204 obras, distribuídas mês a mês a partir dos dois anos.
Quer dizer, nenhum absurdo ou tarefa irrealizável... um livro por mês, um objetivo fácil de se alcançar. Ou não?
De acordo com Regina Scarpa - especialista em educação infantil-, uma criança, aos dois anos, deve ler:
- Bem-te-vi e outras poesias, de Lalau e Laurabeatriz;
- Fora da gaiola e outras poesias, de Lalau e Laurabeatriz;
- Girassóis e outras poesias, de Lalau e Laurabeatriz;
- Livro de histórias, de Georgie Adams;
- Mamãe Gansa, tradução de José Paulo Paes;
- Não confunda, de Eva Furnari;
- O sapo Bocarrão, de Keith Faulkner;
- Quem canta seus males espanta, de Theodora de Almeida;
- Bule da café, de Luís Camargo;
- A casa sonolenta, de Audrey Wood;
- Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela, de Werner Holzwarth e Wolf Erlbruch;
- O porco narigudo, de Keith Faulkner.
As indicações são muito bacanas. Não li todas essas obras ainda, mas os autores garantem a qualidade dos textos!
Passeando pelas idades e pelas sugestões, não há reparos a fazer!
No entanto, me ponho a pensar: se o acesso às obras - se não as do site, outras de qualidade também - está cada vez mais fácil, pois o MEC envia bons acervos às escolas, o que falta, então, para que os livros cheguem aos alunos?
Observo, por exemplo, que, aproximadamente, até o quinto ano os professores leem junto com os alunos. Depois, a gurizada fica meio abandonada, sem referências de leitura/leitores.
Então, por que somos parceiros de leitura dos alunos, apenas, nos anos iniciais?
Por que, nas aulas de língua portuguesa, do sexto ao nono ano, quando a disciplina literatura não está, ainda, institucionalizada, insistimos em levar fragmentos de obras - reproduzidos em xerox ou os que aparecem em livros didáticos - como se bastassem?
E solicitamos que os alunos façam, em geral, a interpretação a partir de questões, digamos, óbvias, em que devolvem o texto simplesmente, sem buscar as entrelinhas? E o pior, para que os alunos analisem a que classes gramaticais pertencem as palavras de um poema? Assim, só para classificar, como se isso fosse a tal gramática contextualizada (?!).
E no ensino médio, largamos os alunos em Cinco minutos e A viuvinha, de Alencar...
Poucos, muito poucos conseguem encarar essas obras e tantas outras - lindas! - sem a mediação do professor ou de um leitor mais experiente.
É bom que nós, professores de língua e literatura, nos lembremos, com Bartolomeu Campos de Queirós, que
A literatura (arte) não é servil. Ela só existe em liberdade, e seu compromisso é para com a revelação. Para tanto persegue a beleza. Daí, todas as vezes que a escola lança mão da literatura, quer transformá-la em "instrumento pedagógico", mesmo cortando as asas do leitor para um voo amplo, desmedido, desfronteirado. A escola reduz as funções maiores do texto literário e o transforma em objeto de convergência, sem escrúpulo. Se o texto é usado para saber aonde o autor quis chegar, é melhor pegar o telefone e perguntar ao escritor. Se ele souber, ele responderá e não haverá desperdício de tempo
Que tal, então, fazer rodas de leitura com os alunos? Transformar esses momentos em diálogo a partir dos textos, intermediados pelas vivências, pelos sonhos, pelas culturas que passeiam nas salas de aula?
2 comentários:
Comentei lá no grupo e agora deixo minhas impressões aqui Suely. Penso que seja sim muito importante voltarmos os olhares para os maiores. A continuidade do estimulo à leitura é essencial para que o gosto por ela crie raízes.
Amo as rodas de leitura!
Um beijo imenso pra ti!
=)
Adorei seu blog, como não estava no magisterio eu olhava mas não com tanta atenção. Agora com um olhar mais critico. Dos livros que colocou fizeram parte da minha infancia: ''da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela'' e ''O sapo bocarrão''. Espero conseguir aprender bastante com a senhora.
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